Thursday, April 27, 2006




















'Se o cão é seu a merda é sua', Ricardo Quaresma, edição de Abril 2006


Se o cão é seu, a merda é sua

A edição de Abril do Espaço Transportável acolhe um trabalho do artista Ricardo Quaresma, formalmente ligado à fotografia e ao cinema. Ricardo formou-se em Cine Vídeo na ESAP, no Porto, tendo sido apoiado pelo I.C.A.M. (Instituto do Cinema, Audiovisual e Multimédia) para dirigir e realizar o seu primeiro filme “Hoje foi Amanhã”.
Em 2002 mudou-se para Hamburgo, na Alemanha, onde desenvolveu diversos trabalhos artísticos e várias exposições, sendo de realçar a instalação no metro da cidade (
www.atandalpha.com). De momento vive em Lisboa e apresenta vários trabalhos nas revistas GQ, Maxim, DNA, DIF, Lusobeat, Umbigo, Maxima e Cream Mag.(Hong Kong).
Para o jornal Notícias de Guimarães Ricardo Quaresma apresenta um conjunto de textos centrados pela frase “Se o cão é seu a merda é sua”, criticando a atitude cívica das pessoas, nomeadamente no momento em que levam o cão a passear para este fazer as suas necessidades, e não limpa aquilo que o cão sujou. Com este trabalho, Ricardo convida o leitor a recortar as letras de modo a criar um stencil, declarando uma série de instruções do modo de utilização. Importa realçar que não é só este tipo de atitude que o artista pretende recriminar, mas sim que se o ser humano não consegue realizar uma tarefa tão simples como a limpeza da “merda de cão”, como conseguirá no dia-a-dia resolver determinadas situações mais complicadas.


Luís Ribeiro

Tuesday, April 04, 2006















'Uma família feliz', Inês Fernandes, edição de Março 2006


Uma Arte [im]pessoal?


A edição de Março do Espaço Transportável acolhe o artista Jorge Fernandes com um desenho da autoria de Inês Fernandes, com 5 anos, sobrinha do artista.
Há muito que a Arte Contemporânea tem assumido contornos maioritariamente dirigidos aos problemas actuais das sociedades, dos conflitos entre nações ao feminismo, da homossexualidade ao direito à liberdade de expressão, da paisagem urbana como geradora de indivíduos à crítica constante de questões políticas. A expressão artística, e basta assistirmos aos filmes deste ano nomeados para os Óscares, dirige-se cada vez mais para questões de ordem pessoal, que pode afectar qualquer um em qualquer lugar.
No entanto, Jorge Fernandes parece, aparentemente, fugir a estas questões, adoptando no seu percurso artístico uma outra ordem de momentos pessoais, com fortes motivos de intimidade, como foram os casos do vídeo apresentado na exposição “Os Limites de um Espaço” no Laboratório das Artes, de uma ecografia da mesma sobrinha que agora desenhou a família em que está inserida, ou nos desenhos de cicatrizes nas paredes rachadas no mesmo espaço de exposição em Guimarães, na mostra “27 artistas, uma casa a demolir”. O ‘família feliz’, conceito explorado pela grande maioria dos cidadãos de todo o mundo, é aqui retratado, o pai, a mãe, a Inês e a criança que ainda está para nascer. Este desenho poderia ter sido recolhido a uma criança qualquer pertencente a uma família qualquer, pois os padrões familiares e sociais são comuns, mas o importante é o que esta imagem simboliza para o artista.
Por outro lado, Jorge Fernandes levanta questões ligadas à autoria, não sendo este desenho criado por si, mas torna-o pessoal ao admiti-lo como uma obra sua (o público só se apercebe disso caso leia este texto). E isso torna-se evidente em todas as exposições em que o artista participa, pois este nega o facto de ser artista, ou melhor, nega o facto de ser um artista através de um nome, uma marca que carimba toda e qualquer obra produzida. Jorge Fernandes nunca usou o mesmo nome, variando com os vários sobrenomes que compõe o seu nome completo, e o caso volta a repetir-se no Espaço Transportável, rejeitando incluir o seu nome na ficha técnica da obra.
Jorge Fernandes frequenta actualmente o último ano do Curso de Desenho na Escola Superior Artística do Porto – Extensão de Guimarães, e tem sido um elemento dinamizador da Arte Contemporânea em Guimarães, ao pertencer ao Colectivo ‘Laboratório as Artes’ e, anteriormente, foi um dos elementos criadores do ‘Espaço Provisório’ (local de exposição numa loja comercial da cidade). Tem vindo a realizar diversas exposições colectivas desde 1997.


Luís Ribeiro