Tuesday, May 15, 2007

Manuel Santos Maia - Março 2007




















“alheava – passeio”
, 2007


alheava – passeio

de Manuel Santos Maia

Manuel Santos Maia nasceu em Nampula, Moçambique, em 1970. Actualmente vive e trabalha no Porto, cidade onde tem vindo a protagonizar algumas das cenas mais dinâmicas do panorama artístico dessa cidade. A designação que o artista atribui aos seus projectos, “alheava”, enuncia algumas reflexões e práticas conceptuais relacionadas com o seu contexto histórico, pois «“Alheava” é a conjugação do verbo “alhear” no pretérito imperfeito. Esta utilização do tempo verbal remete para o passado – este, por sua vez, alude à memória enquanto matéria prima da identidade individual e colectiva.» A realidade explorada pelo artista é a condição pós-colonial, reflectida, por um lado, nas experiências de vida dos portugueses que habitaram as várias colónias africanas no período anterior à revolução de Abril e, por outro, no percurso vivencial que estes desenvolveram na trajectória de descolonização.

Em algumas exposições de Manuel Santos Maia, podemos assistir a vários pontos essenciais no seu trabalho, tais como a reflexão sobre o silêncio, da vida ocultada, do esquecimento e da ignorância implícita nessas vidas que outrora demarcaram um momento importante. Para o Espaço Transportável, o artista reuniu, como normalmente faz noutras mostras do seu trabalho, uma série de textos noticiosos assim como imagens de personagens/ edifícios, configurando mais um momento de uma investigação em curso. “Quando utilizo objectos de família faço uma representação. Estes objectos têm uma biografia, uma vida própria, remetem-nos para outros lugares, outras culturas. Vieram de Moçambique para Portugal, mas aqui ganham outros significados, outros valores.” Esta frase do artista parece-me suficientemente clara no que respeita à significação dos objectos recolhidos, uma espécie de ‘colecção’ privada, da vida privada, que passam de um momento íntimo para uma realidade do domínio público. O avô do artista, o Senhor Maia, está no centro da problemática, onde uma notícia de jornal traça o seu percurso histórico e lamenta a sua morte. Entre as palavras que lembram os seus feitos, é realçado a sua actividade profissional como construtor de casas em Nampula, Moçambique, seguindo-se uma narrativa crítica da exportação de pensamentos ocidentais para África, um modelo modernista aplicado na arquitectura nas colónias portuguesas. Luís Ribeiro